As pessoas que mantêm um controle alimentar disciplinado sabem que, após um tempo, ocorre uma aversão fisiológica a alimentos açucarados ou gordurosos. Costumo dizer que, quando estamos reeducados ao padrão alimentar, “fugimos” da dieta muito mais para agradar familiares, amigos, esposas (os) que a nós mesmos, em razão de insistências como:
Ah, coma só um pouquinho! Está uma delicia!
Ou então:
Você já está tão bem! Esse sorvete não vai te engordar!
Essas situações ocorrem porque quem não possui um padrão alimentar controlado acredita que uma pessoa que se mantém “em dieta” sofre com o processo, passa vontade. Realmente, no início, no período de adaptação, não é fácil, mas, acredite, se insistir com a dieta, com o tempo, o desconforto causado por uma má alimentação será maior que o prazer momentâneo que o alimento açucarado ou gorduroso poderia proporcionar. Isso não significa que nunca devemos “sair da dieta”, mas deixar essas “escapadas” para momentos especiais, como jantar com a família, uma festa de aniversário, etc. O que não dá é fazer dieta de segunda a sexta-feira e comer tudo o que vê pela frente no fim de semana. Bom senso, equilíbrio e moderação devem fazer parte da sua vida, independente das circunstâncias.
Já me deparei com pacientes dotados de grandes físicos, mas com inúmeros problemas pessoais, e nem por isso usavam desculpas para não seguir a dieta e/ou a rotina de atividades físicas. Para algumas pessoas, manter uma dieta rigorosa pode ser um martírio. Portanto, permitir algumas refeições “fora da dieta” pode ser, acima de tudo, muito importante do ponto de vista psicológico. Você pode não acreditar, mas eu já vi casamentos chegarem ao fim por causa de discussões em torno de uma dieta. Certa vez atendi um garoto de 19 anos que, cansado das críticas dos pais quanto à sua determinação na dieta (exagerada, diga-se de passagem), montou uma “cozinha” em seu próprio quarto, com geladeira e fogão. O garoto só deixava o quarto para ir à academia treinar. Não preciso dizer que o desfecho dessa história foi à indicação de um acompanhamento psiquiátrico, assim que descobri o que estava acontecendo. Portanto, cuidado com radicalismo.
Mente saudável = corpo saudável
Uma vez, eu estava em um jantar de negócios, em plena segunda-feira, comendo um delicioso filé de salmão grelhado, acompanhado de uma bela salada colorida, enquanto os demais participantes do jantar – a maioria com sobrepeso – se esbaldavam com frituras, bebidas alcoólicas e doces.
No fim do jantar, algumas pessoas fizeram a seguinte afirmação: “Rodolfo, você só pode ser louco de deixar de comer todas essas delicias”. A minha resposta deve ter surpreendido muita gente, mas acho que vale a mensagem. Eu disse, sem pensar muito: “Loucos são vocês de comerem esse monte de lixo. Duvido que vocês teriam coragem de usar qualquer combustível em uma Ferrari, mas estão colocando coisas muito piores dentro do seu bem mais precioso, seu corpo. No caso de uma Ferrari, seria até possível comprar outra, mas, no caso do organismo humano, é um pouco mais complicado!”.
Para minha felicidade, eles não se ofenderam com o comentário. Ao contrário, nos meses seguintes, reduziram consideravelmente sua gordura corporal, por meio de atividade física e alimentação equilibrada. Não fizeram isso para serem campeões em alguma modalidade esportiva, mas para conquistar algo muito mais importante: qualidade de vida.