Dor no ombro: inflamações e traumas são principais causas; veja como tratar

Dor no ombro: inflamações e traumas são principais causas; veja como tratar

Escovar os dentes, tomar banho, pentear os cabelos, vestir-se, trabalhar… Você só é capaz de praticar todas essas ações cotidianas graças à articulação mais flexível do corpo humano, a dos ombros. E quando a dor se instala nessa região, ela acaba atrapalhando o seu dia de várias maneiras e o que mais se deseja é uma solução rápida e eficaz –o que, diga-se de passagem, nem sempre isso é possível. A dor no ombro é bastante comum e se encontra em terceiro lugar na lista das queixas mais frequentes nos consultórios médicos, perdendo apenas para as dores na lombar e nos joelhos. Estima-se que ela afete de 16% a 26% da população em geral e que, todos os anos, uma em cada dez pessoas procure ajuda médica por causa reclamação. O incômodo é geralmente mais presente em pessoas de 45 a 65 anos. E o grupo mais afetado é o das mulheres. A razão para isso ainda gera discussões entre os cientistas, mas supõe-se que haja relação com fatores hormonais, já que a mulher possui mais estrogênio, hormônio ligado à maior sensibilidade e dor.

Tipos de dores no ombro

A dor pode aparecer de repente, quando é chamada de aguda ou pode durar um tempo, tornando-se crônica. Na maioria das vezes, a sensação dolorosa é localizada, mas algumas pessoas sentirão que o incômodo irradia para o cotovelo. Outras relatam ter uma dor que se estende para as regiões escapular (parte de trás das costas) ou cervical (no pescoço).
Nesses casos, nem sempre o problema é do ombro. Há indivíduos que relatam limitação nos movimentos ou instabilidade, como se o ombro fosse sair do lugar. A dor pode ser sentida não só durante as atividades físicas, mas também na hora do repouso.

Causas da dor no ombro

Segundo os médicos, as causas da dor no ombro se dividem em duas categorias principais: as traumáticas e as atraumáticas. As primeiras estão relacionadas à juventude e dizem respeito a lesões decorrentes de quedas, choques, movimentos bruscos. Já as segundas são mais comuns na idade madura e decorrem, geralmente, do envelhecimento do corpo como um todo, com o desgaste de articulações e tendões.

O incômodo pode também estar conectado às seguintes causas:

·         Articulares: são as relacionadas à articulação do ombro. A mais comum é a lesão do manguito rotador, que corresponde a 6 em cada 10 visitas a um especialista, especialmente entre os pacientes com mais de 50 anos. Para estes, a dor, em geral, decorre de alterações degenerativas. Quando isso acontece, a pessoa também apresentará perda de força, além de piora noturna ao dormir sobre o braço.

·         Periarticulares ou dores referidas: o mal-estar não provém do ombro, mas nele é sentido. Por exemplo: o paciente tem um problema na região cervical (pescoço), artrite e até hérnia de disco, mas a sensação dolorosa é no ombro; pode ser uma lesão temporomandibular (ATM), uma dor visceral (do coração) e mesmo metabólica, como nas deficiências hormonais.

·         Distúrbios ergonômicos ou ocupacionais: decorrem do movimento repetitivo ou má postura. É o caso de cabelereiros, pessoas que trabalham carregando cargas ou ficam muito tempo sentados.

·         Problemas mecânicos: instabilidade decorrente de movimentação articular excessiva (excessos nas academias).

·         Inflamações: processos inflamatórios na bursa (parte do ombro que facilita a ação dos tendões), ou nos próprios tendões. Esses quadros podem levar à Síndrome de impacto, consequência de uma modificação anatômica na parte superior do ombro (região do osso acrômio).

Quando procurar ajuda médica?

Quando a dor no ombro persiste por mais de dez dias, mesmo após o uso de analgésicos comuns, procure um profissional. Um ortopedista, um reumatologista, um fisiatra (médico focado em reabilitação) ou um especialista em dor podem avaliá-lo.
Os médicos advertem que, nesses casos, é melhor não esperar muito tempo para obter a opinião de um profissional. Isso porque o sintoma pode se agravar, tornando-se crônico. O tempo para que isso se concretize é de três meses.

A demora para procurar intervenção médica, para metade dos pacientes tratados, faz com que a dor comece a melhor depois de 6 meses. Estes são os dados da Associação Internacional para o Estudo da dor. Portanto, quanto mais cedo você procurar ajuda, mais chances tem de se livrar da dor rapidamente.

Diagnóstico

Os especialistas são unânimes em afirmar que o exame clínico detalhado é a chave para descobrir a causa da sua dor. Assim, o médico deve usar todos os meios disponíveis para identificar o que está acontecendo com o seu ombro. Esteja pronto para responder perguntas sobre como a dor aparece, quando ela piora ou melhora, e quais são as suas características.

Depois dessa conversa, ele deve examiná-lo fisicamente para observar as condições da região. E não só. Como a dor nos ombros pode ter causas variadas, o especialista também deverá avaliar seu estado geral de saúde. Para completar o exame clínico, podem ser solicitados exames de imagens específicos, como radiografia e a ultrassonagrafia, que mostrará as condições dos seus tendões.

Caso esses testes não sejam suficientes, a ressonância magnética trará uma visão mais ampla e detalhada de tendões, cartilagens e ossos. Já a tomografia computadorizada revelará eventuais lesões ósseas. Especialistas em dor poderão valer-se até da termografia digital, um exame que identifica o local exato da dor a partir da emissão de calor.

Com todas essas informações em mãos, o médico pode definir seu diagnóstico com precisão.

Tratamento

Quando a dor é consequência de traumas, como uma ação feita de forma mais brusca durante a prática esportiva ou no trabalho, a solução é mais rápida. Ficar mais atento aos movimentos, usar bolsas de gelo, bem como analgésicos e anti-inflamatórios comuns são os procedimentos mais comuns. Em casos mais graves, pode ser usado o corticoide, um anti-inflamatório mais potente.

A duração da terapia será de médio a longo prazo nos casos de dor crônica. A melhor abordagem, nessas situações, é a multidisciplinar. A reabilitação geralmente engloba acupuntura ou fisioterapia, que engloba: terapia por ondas de choque, fotobiomodulação (laser), bem como o uso de novas tecnologias, como radiofrequência direcionada, campo eletromagnético, entre outras. A maioria dessas práticas são acessíveis para grande parte das pessoas, seja por meio de convênios médicos ou pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

A depender da intensidade da dor e de uma eventual resposta negativa a essas práticas, o uso de analgésicos mais potentes será necessário. E os remédios serão administrados por meio de infiltrações. De modo geral, essas são as possibilidades terapêuticas disponíveis, o que não exclui uma intervenção cirúrgica.

Aliás, este tratamento poderá até ser a primeira opção em determinadas situações, como no caso da lesão traumática de manguito rotador, que não pode ser adiada sob pena de agravamento do quadro. A melhor forma de prevenir-se de cirurgias desnecessárias é procurando profissionais capacitados para a sua avaliação. E muitas vezes ouvindo mais de uma opinião.

Como prevenir ou colaborar com o tratamento da dor no ombro

·         Procure ajuda médica o mais rápido possível. A medida evita que a dor se torne crônica;

·         Adote uma dieta equilibrada. Excessos ao comer ou beber mantêm o corpo em constante processo inflamatório;

·         Atente-se à postura no trabalho e ao usar o celular;

·         Evite ficar sentado por horas seguidas, sem pausas;

·         Faça exercícios regulares e sob orientação técnica, independentemente da sua idade;

·         Informe seu treinador sobre os seus limites físicos. Ele deve indicar treinos de alongamento e reforço da musculatura interna do ombro;

·         Fuja de práticas físicas extenuantes; prefira os que permitem movimentos mais lentos.

Fontes: Sandro da Silva Reginaldo, ortopedista, chefe do Serviço de Ombro e Cotovelo do Hospital das Clínicas da UFG (Universidade Federal de Goiás), membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), da SBCOC (Sociedade Brasileira de Cirurgia de Ombro e Cotovelo) e da AAOS (Academia Americana de Ortopedia); João Paulo B. Leite, ortopedista, especialista em cirurgia do ombro e cotovelo e termografia digital médica, diretor médico e coordenador no Curso de Pós-graduação em Ultrassonagrafia intervencionista e Regeneração Tecidual, membro do Comitê de dor da SBED (Sociedade Brasileira do Estudo da Dor); Eduardo Murilo Novak, ortopedista e professor da Faculdade de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e da UFPR (Universidade Federal do Paraná), presidente regional da SSBOT-Paraná. Revisão Técnica: Sandro da Silva Reginaldo.

Referências:

·         Caroline Mitchell, Ade Adebajo et alli. Shoulder pain: diagnosis and management in primary care. BMJ. 2005 Nov 12; 331(7525): 1124-1128. doi: 10.1136/bmj.331.7525.1124.

·         International Association for the Study of Pain. Global Year Against Musculoskeletal Pains (October 2009 – October 2010). Shoulder pain.

Texto do site: vivabem.uol.com.br
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